sexta-feira, 11 de junho de 2010

BALANÇO,ROLO E PÊNDULO

Engraçado como, quando é necessário, o corpo nos ensina o que não suspeitávamos saber. Eu por exemplo já subi em árvore de uma veizada só; um olhar rápido, o mapeamento certeiro e seguro dos galhos e os apoios para os pés; em meia dúzia de segundos o galho almejado é conquistado. O prêmio, muitas vezes, era ficar lá de cima olhando os outros meninos em suas trajetórias intuitivas; e, em outras vezes, o sorver lambuzado da fruta ao alcance. Porém, na hora de descer toda a ciência fácil da confiança corpórea sucumbe ao titubeio, e aí o medo embaça os caminhos há pouco eletrizados no raio da subida. Nesses dias de convalescente pós cirurgia, com um corte de 20 centímetros acima do umbigo, não é qualquer movimento que posso exercer. Levantar de um sofá, erguer da cama ou simplesmente virar a posição em cima dela é uma engenharia antes desprezada. Era só fazer um pouco mais de força no abdômen ou perna e braço que levar o corpo se tornava fácil. Agora, no padecimento da carne cortada, quando vou levantar tenho que medir o espaço, balançar e rolar o corpo para um ângulo que me permita fazer um pêndulo com a perna e completar o movimento com o apoio do braço, depois, alicerçado nas pernas, jogar o corpo um pouco para frente para deslocar o centro gravitacional, apoiar as mãos nos joelhos e assim facilitar a subida. Tudo executado em perfeita física para diminuir o esforço e abrandar os repuxos e dores na costura do corte. Essa engenharia, tão simples quanto complexa, está em nós, entranhada no rol de nossas sabedorias tão pouco exploradas.

Um comentário:

  1. juro que sua descrição me lembra a Metamorfose de Kafka, João! A diferença é que (ainda bem!), você não virou uma barata. Boa sorte na busca de seu novo centro de gravidade :)

    Grande beijo!

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