sexta-feira, 18 de junho de 2010

PENAS DIABÓLICAS

Uma gripe ciclônica me arrebatou nos último dias e o que vinha sendo até certo ponto calmaria se tornou uma tempestade. Um furacão de espirros insistiu em estufar minha musculatura abdominal forçando a fenda costurada da cirurgia. Dor.
Iniciei daí uma serie de tentativas de impedimento do espirro. Língua no céu da boca de nada adiantou; língua na glote, picas; língua na glote acompanhada de alguma melodia patética em boca chiúza, chongas; morder o lábio superior e arregalar os olhos, porra nenhuma. Nada adiantou e as trovoadas de esternutação continuaram.
Numa tarde, a mais linda dos últimos 46 anos, recebi a visita de minha sobrinha Juliana e seu marido, Davidson, ambos ex-gordos operados como serei eu em breve. Conversamos bastante sobre nossas experiências pós cirúrgicas e comparamos os procedimentos. Ela operou há quatro anos e nesse tempo os cuidados pós operatórios sofreram algumas mudanças com bastante destaque na questão nutricional. Falamos de papinhas, sucos e enjôos. Também singrou a conversa pelo futuro compensador de como será participar de churrascos e outras festas depois que estiver mastigando novamente e podendo beber minhas cangibrinas. Adorei quando ela ressaltou "Picanha! Tio, você vai comer com gordura e tudo!" Um sorriso largo alugou minha boca e o pensamento planou sobre um paraíso de braseiros, linguiças e cortes especiais de boa carne bovina. Já sabia que seria assim, as ouvir Juliano relatando as possibilidades da ingestão quando tudo se normalizasse me encheu de alegria. Até que um maldito espirro infernal arrebatou meu feliz momento e satã com sua peninha salafraia fez com que aflorasse um miserável bis . No segundo espirro troei imprecações e voluptuoso putaquiupariu. Minha sobrinha, sem saber que salvava a minha vida, disse " Tio, eu aprendi como não espirrar, é só pressionar a unha do dedão embaixo da unha do anular até que doa bastante que o espirro vai embora". Ela aprendera essa mágica dos deuses numa aula de etiqueta assistida ainda quando era muleca lá em Cachoeiro, onde as velhas matronas professoras de boas maneiras condenavam o espirro perpetrado por mocinhas, senhoras e senhoritas, quando em encontros sociais. Essa técnica de madames inespirráveis me salvou. Dali em diante fui visto muitas vezes pela casa com os polegares e anulares unidos pelas pontas. Envergando também o semblante vitorioso de um São Miguel pisando a cabeça do demônio até que soltasse, derrotado, de suas garras, apeninha flamejante. Me livrei assim da espiral de espirros e a paz se fêz.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

O GATURAMO BANGUELA

Suco de graviola, laranja lima com mamão papaia, banana batida com laranja lima e couve, suco de uva, água de coco. tudo em pequenas doses consumidas de meia em meia hora. me sinto um gaturamo banguela porque nem bicar nem mastigar eu posso. E o pior é que da forma como a operação é feita deixo de absorver ferro, ou seja eu vou ter que tomar ferro. logo sou um gaturamo banguela e gay. Mais ainda, estou muito feliz com a nova escolha e caminhos pela frente o que me leva a ser um gaturamo gay recém assumido e alegre. Virei uma fantasia de luxo do Clovis Bornay.
Quero aqui agradecer a minha nova vida ao Dr, João Alípio e sua equipe por todo o trabalho feito nesse corpinho até agora. Tudo muito seguro, profissional e engajado. Não vejo como alguém possa pensar em fazer uma cirurgia bariátrica como a que fiz com outro grupo que não seja esse do João Alípio.
Aos futuros gaturamos desejo boa sorte. Mas calma lá, essa dieta é só por algum tempo, enquanto reeducamos o novo bucho a digerir, daqui a pouco estou na picanha.
Bom, mas antes da Picanha tem uma lata de complemento protéico em pó para beber diluído em suco de laranja.Uma espécie de subversão gaturâmica.

domingo, 13 de junho de 2010

O SPA ÍNTIMO

Agora estou entendendo melhor o propósito da cirurgia bariátrica. É uma espécie de Spa íntimo. Te obriga a comer muito menos, sem ter que se internar com outros gorduchos em hoteis anoréxicos. Seria perfeito se algemassem um personal trainer em você por um ano. Descobri também que para um recém operado a pior coisa que pode acontecer é gripar. Tosse e espirros não combinam com pontos no corte da barriga. Cada espirro é uma visita íntima ao demo; você com as mãos na barriga e ele com uma peninha na mão.
Por falar nisso lembrei agora de quando minha mãe ficou num Spa e organizou um grupo de contrabando de quibes. Uma telefonava pra tele entrega, três senhoras distraiam a portaria enquanto uma outra ia até as grades do portão pegar a encomenda. Depois um bando de gordas puxavam um Pai Nosso. Com todos de olhos fechados e mãos postas ao alto ninguém desconfiava do cheiro de quibe fresco que invadia as instalações do Spa. A cesta era levada até o quarto de mamãe que tinha coragem de abrigar a contravenção; e aí, uma a uma, as senhorinhas iam lá abocanhar seu lote de acepipes frescos e quentinhos. O plano foi todo traçado por ela. Um verdadeiro Gênio da glutoestratégia.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

BALANÇO,ROLO E PÊNDULO

Engraçado como, quando é necessário, o corpo nos ensina o que não suspeitávamos saber. Eu por exemplo já subi em árvore de uma veizada só; um olhar rápido, o mapeamento certeiro e seguro dos galhos e os apoios para os pés; em meia dúzia de segundos o galho almejado é conquistado. O prêmio, muitas vezes, era ficar lá de cima olhando os outros meninos em suas trajetórias intuitivas; e, em outras vezes, o sorver lambuzado da fruta ao alcance. Porém, na hora de descer toda a ciência fácil da confiança corpórea sucumbe ao titubeio, e aí o medo embaça os caminhos há pouco eletrizados no raio da subida. Nesses dias de convalescente pós cirurgia, com um corte de 20 centímetros acima do umbigo, não é qualquer movimento que posso exercer. Levantar de um sofá, erguer da cama ou simplesmente virar a posição em cima dela é uma engenharia antes desprezada. Era só fazer um pouco mais de força no abdômen ou perna e braço que levar o corpo se tornava fácil. Agora, no padecimento da carne cortada, quando vou levantar tenho que medir o espaço, balançar e rolar o corpo para um ângulo que me permita fazer um pêndulo com a perna e completar o movimento com o apoio do braço, depois, alicerçado nas pernas, jogar o corpo um pouco para frente para deslocar o centro gravitacional, apoiar as mãos nos joelhos e assim facilitar a subida. Tudo executado em perfeita física para diminuir o esforço e abrandar os repuxos e dores na costura do corte. Essa engenharia, tão simples quanto complexa, está em nós, entranhada no rol de nossas sabedorias tão pouco exploradas.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

CONTANDO OS LADRILHOS

A recomendação é para que ande o mais que puder; que apesar do corte cirúrgico e de um certo aparvalhamento e desorientação, a recomendação é para que eu ande,ande e ande. Tenho feito isso. Um zumbi oblícuo vagando pela casa. Um balão rodopiando em câmera lenta nos corredores e no quintal. Cruzando hoje pelas vielas de meu lar por dona Dirce, minha querida sogra, que está aqui em casa ajudando a cuidar-me, ela me olhou do alto de seus oitenta anos e disse. É João, você vai acabar contando todos os ladrilhos dessa casa, vai conhecer todo o piso daqui. 517, 518,519,520...

Amanhã em minha crônica na Gazeta falo um pouco da copa, da seleção e de como minha mãe torce. Vai ser minha primeira copa sem cachaçada e comidaria, mas vai ter festa, ah isso vai.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

RELATOS DE UM FUTURO EX-GORDO II

Esse negócio de cirurgia bariátrica da muito mais trabalho do que se imagina. De meia em meia hora tem que tomar meio copinho daqueles de café com alguma coisa leve dentro. Caldo de galinha bem ralinho, água de coco, laranja lima com mamão papaia. Tem que inspirar no aparelho de fisioterapia e fazer três bolinhas azuis subirem até o teto a cada hora e fazer uma série de exercícios. Tem que tomar um monte de remédios, tudo com horário. O banheiro também é visitado com grande regularidade e, por incrível que pareça, não é pouco o que fica por lá. Estou em casa a meio pau. Na verdade a pau nenhum que nem namorar eu posso, por enquanto. O corte na barriga incomoda bastante e a cinta aperta irregularmente, além de dobrar. Quero dizer que está tudo bem e que lá no hospital tudo foi um sucesso, pena que minha hérnia não foi operada também, o que me levará novamente a outra cirurgia em pouco tempo. Entre injeções, copinhos de coisa rala, comprimidos, respiradas e exercícios vou me saindo bem na minha hora. Me vejo afinar e murchar, embora haja ainda algum inchaço da operação. Não sinto fome,nem vontade de comer coisas que comia antes, sinto, isto sim, cheio e meio entupido como se tivesse comido um porco no rolete. Breve estou de volta ao antigo esporte, com mais comedimento já que mudei de categoria. Na praia desse ano já vou desfilar minha média figura por aí. Ano que vem meu inverno será de magro homem. Desde os doze anos que não sei o que é ser magro, vamos ver como é que me saio. Vou deixar aqui um link mandado por meu querido Zé José. Boa música. Imprescindível som.

http://www.youtube.com/watch?v=HIil8k5QnFU

segunda-feira, 7 de junho de 2010

A HORA AGA!

Estou agora entrando no carro para ir para o hospital. Levo meu São Jorge comigo. Só penso nos próximos 40 anos. Tanto a fazer, tanto a lembrar. Comer feito um passarinho depois de muito tempo comendo como um avestruz. De qualquer forma é uma vida carnavalesca. Rapaziada, até minha quarta feira de cinzas.
Quanto será que come e bebe uma Fênix?